Certo dia desses, perdi o sono e liguei o rádio que habitualmente fica na cabeceira da cama. As notícias, como habitualmente, falavam de violência, greves, corrupção... Dentre elas, ouvi um absurdo: estava sendo votada em Brasília a liberação de dinheiro público para oferecimento de viagens pagas aos cônjuges dos parlamentares. Mulheres e maridos dos 513 congressistas passariam a utilizar uma cota de passagens aéreas, nada gastando quando estivessem ao lado de seus companheiros. Uma maravilha!
E o que mais me chamou a atenção foi o nome dado à iniciativa. As altas autoridades do Governo estavam decidindo um “Pacote de Bondades”.
Com tantas prioridades por aí, tantas necessidades da população, estavam gastando o tempo legislando em causa própria. Será que não poderiam votar um pacote de bondades para os hospitais do País que, em algumas regiões, não têm seringas e agulhas o suficiente? Será que não deveriam destinar um pacote de bondades às escolas que continuam desprezadas, reproduzindo o costumeiro e baixo nível de ensino? Será que não haveria um pacote de bondades para conter a violência que se alastra pelas cidades em assaltos, guerrilhas e balas perdidas? Há inúmeras outras necessidades por aí. Falta apenas um pouco de boa vontade, melhor ainda, um pouco de bondade.
Fico pensando nas “benesses” desse pacote. Estarão inclusas as viagens a praias ou aos eventos esportivos internacionais? Um protesto nas redes sociais inibiu momentaneamente a iniciativa, mas não teve jeito, a aprovação aconteceu e vai vigorar a partir de 1º de abril. Não é mentira. Fico aqui pensando: se não fosse tão imoral, eu iria pedir um pacote de bondades para mim. Estou precisando de um tênis mais macio para meu passeio em volta do lago; uma vara de pesca, pois a minha quebrou a ponta; um baralho novo, já que no antigo o curinga está muito apagado. Mas é um pedido muito imoral, e eu nem seria ouvido. Não sou deputado...