Todo ano é assim. Quando chegam as chuvas e as bênçãos do céu caem sobre a terra, tudo fica mais bonito. Um verde que só a natureza sabe o tom se espalha pelo chão cobrindo campos e cerrados. As árvores ganham novas folhas, e as folhas se banham desse verde que é de todos. Lá distante, a semente desabrocha e o infinito se alegra com as plantações que crescem e dançam no ritmo do vento: soja, cana, arroz, algodão, milho... É bom ver o milagre da vida se repetindo mais uma vez.
Todo ano é assim. Até nas cidades, a cor da esperança vem se exibir. Cada espaço que o cimento não cobre se cobre de pequenos ramos que, escondidos na terra, esperavam sua vez. Os quintais são preparados e pequenas plantações de milho se multiplicam soltando pendões, criando espigas, roçando muros e cercas com suas folhas ásperas mas sadias, de um cheiro único, incomparável, lembrando o frescor da infância. Os moradores, simples na maioria, se orgulham do seu plantio que cresce um pouco a cada dia. Protegem das pragas, mostram aos vizinhos, convidam para as futuras tardes de pamonha, de bolinho, de curau... Os moradores caminham entre as plantas, esbarrando nelas com carinho como se temessem machucá-las. Vão passando, ano após ano, pelos pés de milho sem perceber que o tempo vai passando, e o seu tempo ficando por entre a beleza daqueles canteiros.
Todo ano é assim. Todos nós seguimos, admirando esse verde que cresce, que ganha vida. Fazemos, porém, o caminho inverso; o caminho de volta à terra. Perdemos sempre um pouco de nós a cada estação. Não percebemos nossa caminhada de regresso pelos pés de milho da vida.
Participação: Luciano Pires (Reis)