Até que enfim as chuvas chegaram e, com elas, um clima mais ameno, como a gente estava acostumado em nossa região. Até que enfim, porque eu não estava aguentando mais aquele calor maluco que atacou a gente no mês passado. Eu pensei que alguma coisa bem séria ia acontecer. Pensei que ia morrer assado! É verdade. Foi essa a conclusão que cheguei depois de tanto calor.
O sol parece que havia brigado com a lua e estava descontando toda sua raiva em nós. O dia já amanhecia quente, ia piorando, piorando até que a temperatura atingia os 40 graus. Às vezes mais. À noite, quando a gente pensava que ia ter sossego, é que a coisa ficava feia. Todos corriam para fora das casas para não dar um troço. O mormaço era terrível, não ventava, não chovia, não esfriava nem com reza braba. Aliás, pedir ajuda aos santos nem adiantava mais, pois o calor devia tê-los espantado também.
Dormir, só no ar condicionado. Quem tinha, e não é o meu caso. Ventilador não adiantava, até o vento estava quente, era o mesmo que jogar sobre a gente o bafo de uma das salas do inferno. O jeito era tirar o maior número de roupa possível, abrir as janelas torcendo para entrar um pouquinho de ar fresco. E poderia até abrir as portas, pois os ladrões estavam de férias, tomando sorvete ou uma coca-cola bem gelada pela cidade. Aquela história de madrugada fria era coisa do passado. Aí é que o trem pegava fogo. O negócio era levantar mais cedo, porque não dava mesmo para dormir direito. Parece que o colchão estava com febre.
Tenho certeza de que não estou exagerando. Eu senti na pele, e foi na pele mesmo. Às vezes eu pensava que aquela chama ia torrar os cabelinhos do meu braço. Acho até que fiquei um pouco mais moreno, basta pegar uma foto anterior a essa fervura e comparar. Não estou exagerando, foram mesmo dias terríveis para todos nós. Foi a natureza descontando um pouco do absurdo que fazemos contra ela.
Ah, ouvi dizer que existe a possibilidade do capeta abrir outra vez as portas do inferno em nossa direção. Tem lógica, pois ainda nem começou o verão. E eu confesso: não dou conta de suportar aquilo tudo de novo. Se repetir aquela loucura por aqui, dessa vez eu vou mesmo morrer assado!