Eu acabara de lançar o meu último livro.
Havia entrado no meu nonagenário: longevidade que me levara a pensar: “É! Eu não escrevo mais; sinto-me cansado; nem tanta carga para a cabeça, e, depois, embora pequena a minha bagagem de livros, não vejo porque continuar escrevendo”.
Daí, com a minha saúde, era eu andar pelas ruas, conversar com amigos; o meu aprumo, ereto, firme e sem nada de zonzeiras que me viessem ziguezaguear os passos.
Assim, os dias se passando, quando, de repente, num amanhecer, eu, ao levantar-me, a cabeça: “Zum!...” e eu, tonto, vou aqui, vu ali, seguro num móvel, noutro, até que, melhorando, me aprumo.
Tomei o meu café e, cruzando os braços, em solilóquio: “É! Coisa à-toa, mero labirinto.”
Mas, logo ao sair para a rua, pense no meu caracolar pelos passeios! Caracolando, ora minha direção era para cima de uma jovem, com a qual me trombo, ora para cima de um rapaz que, assustado, nega e se destroça contra o muro...
E, deste modo, após um mês de cruciante desconforto, numa tarde, em casa, num luzir da memória, uma lembrança:
Fora numa consulta médica, em que o Doutor me franqueara: _ “A sua longevidade vem da saúde que a leitura e a escrita lhe concedem; e a possibilidade de Alzheimer, nem de sonho.
E, então, o meu acordar em retomar a leitura e a escrita, ação, pela qual, dentre uma quinzena, o milagre: zonzeira para as traças, aprumo ereto, firme, caminhada reta, sorrisos para as pessoas, abanos de mão... E, daí, a minha alegria... Imaginem!