O escritor Ignácio de Loyola Brandão, desconhecido para aqueles que não sabem o que é uma boa leitura, fez uma análise sobre o uso das sacolas no Brasil e no mundo, numa de suas saborosas crônicas. Diante da necessidade do homem frente a esse utensílio, chegou a dizer “Eu já me senti estranho ao perceber que estava de mãos vazias”. Seu trabalho, realizado há bom tempo, se revelou eternamente contemporâneo. Eu vivo, nós vivemos por aí com uma sacola nas mãos, das mais sofisticadas às mais simples. No meu caso, não me desapego de uma sacolinha de supermercado. Vira e mexe me vejo pelas ruas carregando uma delas, sempre reutilizando esse invólucro de plástico. E são inúmeras as ocasiões... Se transporto um material para o trabalho, se levo uma peça de roupa para o conserto, se trago um agrado às crianças, se colho frutas no quintal, se separo verduras na geladeira, se cubro a metade da melancia, se escondo o pedaço de doce, se deposito o lixo no cesto lá fora, se empresto uma ao vizinho, estou sempre precisando de uma dessas importantes sacolinhas.
Em casa, existe um daqueles “puxa-saco”, acomodadores de sacolas. Ali deposito todas elas à medida que vou conseguindo. Uma a uma, bem dobradas, aconchegadas como um pequeno tesouro que me socorre nas necessidades. O interessante é que elas nunca sobram e, no entanto, nunca me faltam. Quando se tornam escassas, chega o momento de novas compras e eu volto ao lar com um novo estoque. Às vezes fico mais de olho nas sacolas que nas mercadorias. E olha que os caixas são generosos; há produtos que vêm trazendo duas delas. Sei que é uma jogada de marketing: as sacolas espalhadas pela cidade em grande proporção passam a imagem de preferência e, agregado, o pensamento de qualidade e preços baixos. Sei disso, mas não me importo com a função de garoto-propaganda, ou melhor, de velho-propaganda. Saio contente pela vida carregando uma sacolinha que, para mim, tem muito valor.
A minha única preocupação é com o meio ambiente. Não se pode descuidar e deixar as sacolas jogadas por aí. Já li, mas me esqueci dos anos que a natureza gasta para decompor um produto assim. Sei que são muitos e faço a minha parte, recolhendo as que uso. Às vezes até salvo algumas perdidas pela rua. Em minha última pescaria, por exemplo, fazendo a limpeza final na beira do rio ao voltar para casa, percebi mais uma vez o quanto elas são úteis. As fotos do passeio reforçaram a ideia. Quase tudo tinha por perto as cores da empresa onde fizemos as compras.
O Ignácio ainda disse que “A sacola é o novo membro do corpo humano”. Ele exagerou, é verdade, mas eu gostei. Curto e compartilho seu pensamento. Aliás, o livro desse referido escritor veio numa sacola quando o adquiri, e agora estou levando-o para emprestar a um amigo. Adivinhe como: numa sacola! Uma simples, mas preciosa sacolinha de supermercado.