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Um caminhão caiu ali na serra!

Eu não sou antropólogo, psicólogo, sociólogo ou outro “ólogo” qualquer, mas vivo tentando entender o ser humano em alguns momentos, analisando certas atitudes, determinados pontos de vista. Não é uma tarefa fácil. A mente humana é objeto de estudo desde os primórdios da humanidade; talvez nada haja a acrescentar depois dos incansáveis esforços de Aristóteles, Sócrates e Platão. Não tenho a pretensão de me comparar a esses gênios e, se há coisas que só Freud explica, eu nem deveria, mas, teimoso, me arrisco nesta análise.

As contradições do pensamento humano me surpreendem a cada dia, a começar pelo contentamento, pelo riso incontido de alguém quando seu semelhante tropeça. O que há de bom ou de graça na desgraça alheia? É natural que o descuido ou a pressa cause um escorregão ou um tropeço na vida. Riso é desnecessário. O fato deveria ser facilmente entendido, mas não. Meu esforço também se concentra na tentativa de medir a ambição do homem que aniquila a vida, a natureza, os animais, pensando apenas em si. É o único ser que destrói sem peso na consciência a morada dos seus descendentes. Há pouco mais de dois mil anos, o delírio febril da mente humana matou um homem que vagava pelas ruas ensinando a paz e distribuindo palavras de amor. São reações incompreensíveis de um ser que, dotado de inteligência, não enxerga o simples caminho de prosperidade e harmonia que, todas as manhãs, se desenha à sua frente.

A minha maior perplexidade diante dessa insensatez, no entanto, acontece sempre que uma voz, em singular entusiasmo, anuncia que um caminhão caiu ali na serra. Nesse instante, alguma coisa incompreensível explode no interior das pessoas e elas se lançam em direção à tragédia. Normalmente poder-se-ia pensar que o objetivo fosse prestar socorro ao condutor ou salvar o veículo de um possível incêndio, mas a intenção é outra. Para minha surpresa, jogam-se sobre os destroços, saqueando a carga. Sem medir consequências, levam a maior quantidade de mercadorias que podem até chegarem ao local as primeiras autoridades. Feito macacos numa plantação de milho, colocam um vigia enquanto os outros pulam sobre o amontoado de produtos, alimentando-se do sofrimento alheio. Alguns chegam a arrancar e levar para si peças do caminhão. Uma barbaridade!

O que mais me encabula é que essa atitude, para a maioria, parece normal. Ricos e pobres, negros e brancos, crentes e ateus já foram encontrados e repreendidos com um desses saques na cabeça. Parece que a notícia do desastre faz surgir uma repentina névoa na mente, apagando os limites do discernimento. Nesse momento, o ser racional obedece apenas ao comando irracional do cérebro. Então, quando ouvir por aí que um caminhão caiu ali na serra, saia da frente, pois você pode ser atropelado ou atrapalhar alguém nessa incomparável tarefa de ser gente. Só mesmo Freud explica!

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