Dentista é um ser de outro mundo. Normalmente é uma pessoa calma, educada, instruída, bem relacionada na sociedade e muito respeitada por todos. Caminha entre nós como se fosse normal. Quem vê nem acredita nas atrocidades que é capaz de fazer. O ataque de uma dessas entidades de jaleco branco é dos mais terríveis!
Pelos métodos utilizados, parece ser discípulo de Hitler. Quando a pessoa chega a seu consultório, é como se entrasse numa câmara de gás. Ele a recebe com uma falsa amabilidade, posiciona-a deitada de costas numa cadeira, quase de cabeça para baixo, impossibilitada de qualquer reação, de qualquer defesa. Depois coloca aquela máscara na cara para não ser reconhecido e esparrama em uma mesinha diversas armas esquisitas que a gente só vê em filmes de ficção. A pessoa já começa a tremer e quase pode ver, por trás da máscara, aquele sorriso macabro cheio de contentamento por ter mais uma vítima assustada à sua disposição. E aí começa a tortura.
A anestesia que ele diz ser para o nosso bem é uma das piores maldades. Ele fura o indivíduo várias vezes demoradamente com aquela tétrica seringa, tanto que a boca fica torta e formigando o resto do dia. Depois vem a sessão da broca, como se fosse um filme ruim que nunca acaba. Aquele zunido vai penetrando na cabeça, levando o coitado à loucura. Não há como respirar pela boca, e o monstro deixa o jato de água acertar o nariz, tirando o resto do fôlego. Pior é quando toca o telefone, ele interrompe o serviço para atender e se esquece do pobre diabo com a boca cheia de algodão e a baba aumentando e caindo pelos lados. É uma loucura!
Sobrevivo desde o tempo do dentista prático. Dá para imaginar a quantidade de anos que sou perseguido por essa criatura. Não dá para ficar mais de seis meses sem ser maltratado naquela cadeira. Quanto mais tempo a gente fugir é pior; depois ele desconta com juros. E tudo dói: a obturação, a prótese, o canal, o implante, a extração, a gengiva, tudo. Dói mais ainda no bolso. Todos eles querem ficar ricos em pouco tempo. Dificilmente algum atende por convênios e o pagamento tem que ser à vista. A gente deixa de comer para arrumar os dentes e, quando o serviço acaba, não tem mais dinheiro para comprar comida.
Dentista é mesmo um ser de outro mundo. É uma raça alienígena de predadores. Quem faz odontologia é aquela pessoa frustrada que tomou bomba no vestibular para ser esquartejador. Não exagero. A maior felicidade que tenho é quando termino um tratamento dentário. É uma sensação inigualável saber que fiquei livre daquele sofrimento por algum tempo. Não há nada igual. Bem, agora preciso ir. Tenho horário marcado às nove. Ai, ai, ai...