Quando criança, eu queria ser detetive particular. É um profissional meio cercado de mistério que emite sobre nós certo fascínio. Há sempre um toque de aventura envolvendo sua vida. É pouco conhecido, não aparece muito, faz parte de sua profissão esconder-se para melhor achar. Ele observa, investiga, segue, persegue...
Tenho um grande amigo na cidade. Alegre e comunicativo, está sempre sorrindo. Assim, não lhe faltam convites para uma reunião, um churrasco, uma balada. Aliás, festa é sua especialidade. Vive por aí, rodeado de pessoas, contando seus causos e anedotas. Aonde ele vai, em meio à conversa, vira e...
Ele passa despercebido. Em nosso meio temos o costume de dar mais atenção ao número um por ser o primeiro, ao número dez por ser o conceito maior e a camisa do Pelé, ao número 24 por razões óbvias. No entanto, outro se destaca. Refiro-me ao número quatro, conhecido...
Olha, eu tenho que confessar: estou com saudade da política. A gente fala mal, diz que não gosta do assunto, que os políticos não prestam, que está cansado de sofrer, que não aguenta mais ser enganado e muitas outras coisas. Diz até que política é uma maneira legal para...
Até que enfim as chuvas chegaram e, com elas, um clima mais ameno, como a gente estava acostumado em nossa região. Até que enfim, porque eu não estava aguentando mais aquele calor maluco que atacou a gente no mês passado. Eu pensei que alguma coisa bem séria ia acontecer....
Foi assim que aconteceu. Alguém alcançou o alto do coqueiro, espantou pai e mãe e, no rebuliço dos filhotes, escolheu um para si. Bico e pernas se debateram em vão e a pequena e indefesa ave, um periquito pelado – em alguns dias esverdeado com listras vermelhas nas asas...
Que horror! Foi a exclamação da menina ao receber a notícia. O mais velho, já sabedor da tragédia, havia se amuado no canto com um bico deste tamanho. A mulher, por sua vez, perdeu o semblante alegre e os passos largos que rondavam a cozinha na execução das tarefas....
Começou há pouco tempo. Poucos dias, semanas talvez. Algo difícil de imaginar, estranho demais para acreditar. Mas está acontecendo! Na beira da cama, do lado dos pés, no canto direito, sempre no mesmo lugar. Está lá, para quem quiser ver. Está lá, mas nem me atrevo a mostrar. Duas...
Ela foi minha aluna. Assimilava o conteúdo e retribuía com seu sorriso, sua amizade, sua alegria. Eu a apelidei de Poetisa, pois escrevia alguns versos, impulsionada por uma enorme sensibilidade. Ela sempre me mostrava uma ou outra composição. Rosa Maria da Silva Martins, a poetisa Rosa. Buriti Alegre...
Eurípedes Vieira de Castilho, o nosso professor Nem, já coloriu com sua arte vários cantos da cidade. Sensibilizou a todos que se depararam um dia com seus inconfundíveis traços num livro, numa tela, num muro, nas paredes de um local que valoriza a cultura. Na rua Corumbá, nas faces...
Era um doce. Nem se imaginava, mas era um doce. Enrolado num papel luminoso de beiradas recortadas, lá estava, em miniatura, um doce com rosto de criança que, de tão capricho, parecia ter vida. Bem desenhado, tinha bochechas rosadas, olhos de uma pedrinha brilhante, cabelos cobrindo os ombros, e...
A fazenda era grande. Tinha de tudo: peões, carros de boi, currais, moendas, mangueiros, monjolos, cavalos e gado, muito gado. E outras inúmeras coisas do sertão que é desnecessário dizer. Para dirigir tudo isso de forma eficiente era necessário uma mão forte. Meu patrão tinha. Talvez até forte demais....
Era dia de festa e as homenagens se sucediam. A alva decoração trazia em si o tom da felicidade, a mesma que se espalhava de rosto em rosto efervescendo sorrisos, motivando abraços, parabenizando conquistas. Textos escolhidos, esperados, degustados na voz emocionada do mestre de cerimônias. Aplausos, presentes e flores......
Vez em quando minha cara-metade faz isso: vasculha o guarda-roupa e começa a jogar ao chão aquelas peças mais usadas, dependuradas à espera de um passeio, mas nunca lembradas, perdidas num canto, no mofo, na solidão. Depois, com as duas mãos ela ajunta, aperta ao peito como num agradecido...
Os nomes dos personagens são fictícios, mas a história é verdadeira. Aconteceu lá para os lados de Mato Grosso onde o folclore é muito rico e as tradições são preservadas, resguardadas como um verdadeiro tesouro por sua comunidade. Foi assim: a pequena cidade de Barreirão estava em festa e...
Quem acompanha o futebol brasileiro sabe de uma recente mudança no comportamento dos árbitros que conduzem os embates nos estádios de nossa Federação. O cartão amarelo está sendo aplicado com mais frequência aos jogadores que reclamam das decisões em campo dos “homens de preto”. A iniciativa visa moralizar a...
Eu não queria, mas me calei. E alguém da minha família resolveu comprar, do vendedor que passava, uma dúzia de pintinhos e a ração própria para criá-los. Em minha opinião, é bem melhor comprar as aves já abatidas. Dá menos trabalho. Claro que criá-las pode ser mais econômico. O...
Eu era alegre. Muito alegre. Vivia sorrindo por aí. Minha alegria tinha pressa e, assim, a tristeza não me alcançava. Em casa, contagiava a todos com o bom-humor que os raios do sol faziam brilhar em meu rosto. No trabalho, minha animação espalhava-se pelos corredores e impregnava-se em todos...
Quer saber, não me envergonho de assumir. E sempre que posso, deixo bem claro a minha aversão, meu asco, meu medo, meu desespero diante desta terrível criatura, desta nojenta ameaça, desta... me perdoe a palavra: barata! Vira e mexe, uma mexe, eu me viro e me vejo diante desse...
Hoje é dia de descanso; raro hoje em dia. Aproveito e fujo dos horários, das sirenes, do trânsito, das pessoas. A natureza me vê chegar calmamente, como quem não quer incomodar, interferir no sistema, na organização, no harmonioso entrelaçar da fauna e da flora. Piso de macio a gramínea...
Aquele muro apenas chapiscado – em outras palavras parcialmente coberto por uma camada fina de cimento – era a morada de uma ou mais famílias de lagartos, aqueles pequenos cor de nada. Ali encontravam o lugar ideal para viver. Havia sujeira rente ao chão onde pousavam os mosquitos e...
Vou mover um processo contra a Coca-Cola por discriminação. Não é justo o que essa empresa está fazendo comigo. Ainda não encontrei meu nome impresso numa de suas latinhas. Já vi Alice, Dani, Beto e inúmeros outros, mas o meu não. Isso é discriminação! Como diz Aurélio em seu...
Foi um erro de impressão. A nova lista telefônica trouxe o número do meu aparelho diante do nome de uma renomada empresa. E de repente, eu na minha solidão, comecei a receber inúmeras ligações por dia. “Não, aqui é da minha residência”, respondia. As pessoas se desculpavam pelo engano...
Maria Eterna era jovem, era bonita. Conheceu muitos lugares, muitos desejos, muitos amores. Realizava quase todos os seus sonhos e assim se sentia muito feliz. Tinha o nome da mãe de Jesus e se orgulhava dele. O sobrenome era também importante: dizia que seria lembrada para sempre por parentes...
Ontem à noite, ao vagar pela cidade, notei, entre o movimento frenético das luzes dos automóveis e a pressa incompreendida das pessoas que passam, a quietude de uma garrafa vazia jogada na grama no canto da praça. O rótulo exibia a marca de um wiskey conhecido. Voltei os olhos...
Todo cidadão quer viver numa cidade onde os serviços sejam eficientes. Embora o desejo seja generalizado, são poucos que agem ou cobram do poder público essa prestação adequada. Alguns fatores são determinantes para isso. Primeiro, é uma preguiça em se informar com precisão sobre o que seria uma...
As pessoas diziam que ele tinha a cabeça fraca. Apareceu, um dia, do lado que o vento sopra mais forte e, como se fora trazido pela ventania, encostou aqui, junto às folhas que rolavam aos seus pés. Ser humano admirável, apelidado Garimpeiro, conquistou a todos com sua simplicidade e...
Tenho medo de muitas coisas nesta vida: escuro, morte, mosquito da dengue... E atualmente outra fobia me apareceu. Tenho medo de parar o automóvel nas faixas das ruas de nossa cidade. É um perigo danado! Boa parte dos condutores que precedo não tem a mesma intenção, a mesma educação....
Em qualquer região deste nosso País, seja nas grandes cidades ou aqui no meu interior, há uma força que move a população para o trabalho, para o lazer, para a vida. Não, não é o amor, não é o sonho, não é a fé. É a cachaça! Poucos não...
A casa era simples. Um barracão perto da esquina, ao lado de um lote vago. O telhado desigual, portas e janelas de madeira, as paredes de uma cor desgastada pelo tempo. Simples, mas limpo. Minha mãe dizia que não importava se as roupas, os calçados, as casas, os sonhos...