Causas de Infarto em Jovens
Pedro Pinheiro
Existem alguns mitos sobre o infarto do miocárdio em adultos jovens. É muito comum ouvirmos que o infarto em jovens é mais grave, que quem infarta jovem sempre morre, que pessoas antes dos 30 não podem infartar por isso pode-se beber, fumar e consumir qualquer coisa até esta idade.
Realmente infartar antes dos 35 anos é raro. De todos os infartos menos de 5% acontecem em pessoas com menos de 40 anos. Resolvi escrever esse texto porque hoje, por acaso, atendi um paciente de 35 anos que havia infartado com 29. É incomum? É, mas pode acontecer.
As pessoas jovens que infartam, normalmente apresentam 2 ou mais dos seguintes fatores de risco: Obesidade, Tabagismo, Hipertensão, Diabetes, História familiar e Colesterol elevado. Além dos fatores de risco comuns descritos acima, é frequente encontrar entre os jovens (menores que 40 anos) que infartam, as seguintes condições especiais:
- Alterações da coagulação como doença de Leiden
- Síndromes familiares que apresentam colesterol elevadíssimos
- Vasculites (doenças que causam inflamações dos vasos) como Kawasaki
- Insuficiência renal em hemodiálise com inicio na infância
- Doenças autoimunes como lúpus
O cigarro parece ser o principal fator de risco, já que 81% dos jovens que infartam apresentam o hábito de fumar. Mas toda vez que nos deparamos com uma pessoa jovem com suspeita de infarto, principalmente se não houver os fatores de risco descritos acima, é imprescindível pensar no consumo de 2 drogas: anfetaminas e cocaína. 25% dos infartos em jovens estão relacionados ao uso de cocaína. Na primeira hora após o seu consumo, o risco de se ter um infarto é 24x maior do que o risco de base. Agora imaginem o estrago se essa pessoa acumula 2 ou 3 fatores de risco e ainda consome a droga.
O grande mito sobre o infarto em jovens, é que esse seria muito grave, pois não há circulação colateral desenvolvida. Isso não tem nenhuma base científica e é uma interpretação errada da fisiologia humana. Na verdade os infartos em jovens costumam ser MENOS graves.
Vejam os dados sobre cateterismos realizados em menores 40 anos e maiores de 50 anos:
- 18% dos jovens não apresentava nenhuma lesão visível nas coronárias contra apenas 3% dos mais velhos;
- 60% dos jovens apresentam doença em apenas 1 artéria coronária (sinal de doença “leve”) contra 24% dos mais velhos.;
- Quando se fala em obstrução em 3 artérias ao mesmo tempo (sinal de doença arterial grave), apenas 19% dos jovens a apresentam, contra 39% dos mais velhos.
A mortalidade intra-hospitalar após o infarto é de apenas 2,5 em menores de 45 anos, 9% entre 45 e 70 anos e 29% em maiores de 70 anos. A sobrevida após 10 anos do infarto também é maior em quem o sofre antes do 45 anos. Portanto, quanto mais velho, mais grave costuma ser um infarto.
O ponto a ser chamado a atenção é o seguinte: uma pessoa que infarta aos 40 anos, tem em média mais 40 anos de vida para conviver com as consequências e limitações de um coração infartado, além do risco de infartar de novo. Um senhor que infarta aos 75 anos, já passou sua fase produtiva e a própria idade avançada se encarrega de limitar suas ações.
Pedro Pinheiro, Médico formado UFRJ em 2002. Diploma reconhecido pela Universidade do Porto, Portugal. Título de especialista em Medicina Interna pela Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) em 2005. Título de Nefrologista pela UERJ e pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em 2007. Título de Nefrologista pelo Colégio Português de Nefrologia.