Lideranças rurais reunidas em Rio Verde
Soja - Colheita é aberta com cobranças
O município de Rio Verde, no Sudoeste do Estado, sediou ontem a abertura oficial da colheita de soja no Brasil, em meio às chuvas, críticas, cobranças e previsões otimistas e negativas de lideranças classistas e produtores rurais sobre a safra 2012/2013 que foram prestigiar o evento na Fazenda Abóbora, localizada no quilômetro 4 da rodovia GO-174. A chuva trouxe preocupação aos agricultores goianos, que já contabilizam prejuízo com a quebra da safra. Inicialmente, por causa da falta dela na hora do plantio e, agora, por cair durante a colheita, que deve afetar o rendimento por hectare.
“Existe uma perda concreta. Só não sabemos a dimensão exata ainda”, explica o presidente da Comigo, Antônio Chavaglia. De acordo com ele, a consequência mais imediata deverá ser a redução da área plantada de milho na segunda safra. “Acreditamos que a área plantada de milho será de 15% a 20% menor que no ano passado”, disse. Para ele, ainda é impossível prever se o produtor terá condições de colher a produção de soja no próximo mês.
Também a Federação da Agricultura de Goiás (Faeg) refez a projeção da safra em Goiás para este ano. Inicialmente prevista em 20 milhões de toneladas, a produção total de grãos no Estado passou a ser estimada em 18,5 milhões de toneladas. “Na soja, pode ter uma quebra de até 300 mil toneladas”, calcula o presidente da entidade, José Mário Schreiner.
REIVINDICAÇÕES
Lideranças políticas e classistas do setor direcionaram críticas e cobranças aos governos estadual e federal. A principal reclamação ficou por conta das dificuldades de transportar a produção das fazendas para os portos, mas também entraram na pauta o seguro rural e garantia de preço mínimo. “São mecanismos que precisamos implementar para proteger os produtores e a sociedade com um seguro justo. Também precisamos de mecanismos de comercialização”, pontuou o presidente da Faeg, José Mário Schreiner.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Homero Pereira (PSD-MT), considerou que o setor agrícola é vítima de preconceito do governo e de parte da sociedade. Para ele, as entidades governamentais ainda não tratam o setor primário com respeito e contribuem para a formação de uma imagem negativa da classe. “Um produto que custa R$ 1,00 o quilo não pode ser alimento das elites. Soja é comida de pobre”, afirmou.
O presidente do Sindicado Rural de Rio Verde, Walter Baylão, e o presidente da Comigo, Antonio Chavaglia, protestaram contra as condições das rodovias na região. Representando o governador Marconi Perillo, o secretário estadual de Agricultura, Antônio Flávio Camilo de Lima, respondeu que o governo tem se empenhado para melhorar a qualidade das rodovias. “Já reconstruímos dois mil quilômetros de estradas. Não é possível fazer tudo de uma só vez.”
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, que representou o ministro Mendes Ribeiro, defendeu que o governo federal tem enfrentado os gargalos que atingem os produtores. Ele prometeu discutir o acesso ao crédito no Plano Safra e encontrar soluções para a armazenagem de grãos. De acordo com ele, mais importante do que discutir o seguro rural é criar formas de tornar o produto mais competitivo.
OTIMISTAS
Com o início da temporada agrícola diretamente beneficiada pela quebra produtiva nos Estados Unidos e Argentina, algumas lideranças não esconderam otimismo para o futuro do grão no País. “Esse ano pode ser um marco. O Brasil tem tudo para superar os EUA e se tornar o maior produtor de soja do mundo”, enfatizou o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Brasil), Glauber Silveira.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 82,6 milhões de toneladas da oleaginosa deverão ser colhidas em todo o território nacional, um acréscimo de 24,5 % sobre o ciclo anterior. Com os preços da commodity em alta e a perspectiva de se ter a maior colheita de soja da história, o aumento poderá ser de 16 milhões de toneladas em relação à safra passada.
Senador faz mea culpa sobre aumento do frete
Apontada por lideranças do agronegócio como um dos principais fatores para o aumento no custo do frete no Brasil, a chamada Lei do Motorista levou o senador Blairo Maggi (PR-MT) a fazer uma mea culpa no evento de abertura da colheita nacional de soja. O ex-governador do Mato Grosso disse que participou das discussões no Congresso sobre a legislação que garante carga horária máxima de dez horas por dia para os caminhoneiros, mas que não se tocou para os impactos da mudança no agronegócio.
Segundo o parlamentar, a sociedade precisa ficar atenta aos projetos discutidos no Congresso para que temas importantes não passem batidos. “Analisamos apenas a saúde dos caminhoneiro e a segurança dos motoristas. Nenhum produtor, associação ou eu percebemos que o Brasil não tinha condições de implantar essa lei.”
Já em vigor nas rodovias, a mudança exige pelo menos 11 horas de repouso diário e que o tempo parado em fiscalizações e terminais de carga e descarga seja remunerado. Os reajustes podem chegar a 20% para o frete convencional.
Produtores reunidos em Rio Verde durante início da colheita safra 2012/2013