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Política -

COLHENDO MANGABAS

SAUDOSISMO: tendência, gosto fundado na valorização demasiada do passado.

 

Então, textualizando o saudosismo que se apossa de mim, partindo "DOS GERAIS" sudeste tocantinense, onde acabo de colher abundante quantidade de mangabas, fruta que já foi uma fartura em nossa Goiatuba, que existia até no perímetro urbano, e que agora é raridade em todo o município. De igual forma, outras dezenas de frutas, incluindo o pequi, gabiroba, araticum, cagaita, mama-cadela, etc., se foram para sempre! Até a jabuticaba entrou na lista de escassez!

Era comum nos finais de semana juntar os familiares, e, com vasilha à mão (sacos plásticos ainda não eram difundidos), andar pelos campos que circundavam a urbe, colhendo as frutas de época.

De volta às suas casas, preparam-se para o show de Praião e Praínha que acontecerá no picadeiro do circo instalado no largo da rua Piauí com a São Francisco, que também pode ser no circo de touradas do Asa Branca, montado onde hoje fica a Loja Novo Mundo. Alguns garotos já garantiram seus ingressos andando pelas ruas da cidade com respostas de "TEM SIM SENHOR" a um palhaço que insistia na pergunta "HOJE TEM A MARMELADA?".

Iam os circos e ficavam as gírias que o palhaço deixou pra criançada, e a imagem da linda moça do trapézio!

Mas a diversão vinha também pela tela do Cine Lúcio Prado, com sessões subsequentes pra atender à demanda dos filmes do Mazzaropi, com filas que "abraçavam" o quarteirão!  Aos jovens, Tarzan e Bang Bang italiano (Meu nome é Pecos, Sartana, entre vários).

O programa caseiro seria o Zé Bettio, nas ondas da Rádio Capital, A Turma da Maré Mansa, pela radio Globo, Edgar de Souza e a Linha Sertaneja Classe A,  pela Record. O radio produzia muita gente boa! Elí Correa, Barros de Alencar, Ney Costa e as Mais Mais da Bandeirantes, Arlindo e Osvaldo Bettío, etc.

A TV, além de muito cara, estava germinando pra nossas bandas. E as famílias ainda tinham o saudoso hábito de uma reunião à noite, apreciando o fantástico adorno natural de um céu estrelado!

A candura de um povo interiorano atraía os vendedores ambulantes, popularmente denominados "O homem da cobra".

A sociedade se esbaldava nos bailes que aconteciam no salão do clube Recreativo, e eram fabulosos!

Os bailes de carnaval, de caráter ingênuo, comparativo aos tempos atuais, também aconteciam lá.

Num tempo em que as mulheres ainda buscavam a sua independência, os bares Marabá, Brasília, Elite, e bem depois os do Ley e do Odilon, eram exclusivos para os homens. Não bebiam cerveja; bebiam Brahma.

O futebol, ainda amador, já produzia seus ídolos, nas figuras de Franguinho, Remy e Valdinho. A rivalidade era com o Botafogo de Buriti Alegre.

Depois viria o profissional. E  Zé Borracha, Traíra, Esqueleti, e o extraordinário Da Silva, foram os ídolos. Agora o grande rival era o Itumbiara, que enchia o Divinão!

E com a influência do futebol profissional, os garotos imitavam seus ídolos pelas mãos do Sr. Reinor, Sérgio, Willian Franguinho, João Aprígio, Pelezinho e outros.

Na educação tínhamos excelentes professores! E um Ginásio Estadual que era referência de bom ensino, nas mãos do Diretor Professor Geraldo. Ali formaram grandes homens!

E não menos competente, o recém criado Colégio Estadual foi administrado com disciplina pelo ótimo Professor Lacordaire!

A missa aos domingos era obrigatória. E a praça Lúcio Prado, com a sua fonte luminosa, era o local das azarações, com direito a fundo musical e dança das águas em diversas cores.

A política era feita com dois partidos, pejorativamente alcunhados pelo adversário de Timbete ou Coruja. Mas os eleitos tinham decência! O verbo Locupletar ainda não era conjugado de forma pejorativa aos que se elegiam.

Um Fusca novinho dava mais status do que qualquer veículo de hoje. Lavar e encerar era tarefa exclusiva do dono. Com prazer!

Há muitas fotos de época que nos faz rir. As calças chamadas "bocas de sino" , de barras extremamente largas e justíssimas no quadril,  eram acompanhadas com camisas muito justas e sapatos plataforma. Tudo desconfortável.

Mas não é nada, comparado ao que os jovens de hoje terão no futuro. Como se explicar ao uso de um cabelo todo amassado ou com um topete enorme e máquina zero nas laterais! E uma calça no meio da bunda, aparecendo a cueca!

Brincos eram acessórios exclusivo das mulheres. E aqueles arames que denominam Piercing, já usávamos no nariz...mas dos bois!

Erramos? Sim. Afinal os erros são pertinentes à juventude.

Mas tínhamos Mangabas pra colher...

Roberto Lourenço, é empresário

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